
Não coloca as mãos no fogo por Contador, mas considera El Pistolero o melhor da atualidade. Irónico, rebelde assumido contra o sistema e à espera de se retirar em estilo, confira o melhor da entrevista de Oscar Freire ao As.
Há corridas que parecem destinadas a determinados ciclistas e esse parece ser o caso da relação entre Oscar Freire e La Primavera, um dos vários cognomes da Milão-Sanremo.
Aos 36 anos e com retirada agendada para o final da temporada, o espanhol entrou no novo ano com a mudança para da Rabobank para a Katusha e com a mudança vieram as vitórias – uma na Volta à Austrália e outra na Andaluzia.
“Sempre que corro a Milão-Sanremo sinto que tenho hipóteses”, confessa Freire em entrevista ao jornal As. Maduro e sem se deslumbrar, o tri-campeão mundial coloca as coisas em perspetiva: “Por esta altura estou mais ou menos igual (ao ano passado). As coisas realmente só começaram a piorar desde a minha queda na Sanremo. Depois, no resto das Clássicas todos chocamos com um Gilbert insuperável”.
Oscar Freire sabe que não parte como favorito, mas é colocado no lote dos que podem surpreender Mark Cavendish. A experiência é um posto, mas também ajuda ter uma equipa forte, aspeto onde a Katusha perde para a Sky: “Temos o [Luca] Paolini. O [Xavier] Florencio também me ajuda. Talvez me falte um que me deixe a 200 metros, mas não me posso queixar”.
“CONTADOR? NÃO PONHO AS MÃOS NO FOGO POR NINGUÉM”
A conversa de Freire com o As prossegue amena até se falar de doping, concretamente sobre o caso que ditou a suspensão retroativa de dois anos a Alberto Contador.
Profissional há 14 anos, Freire já viu praticamente de tudo na modalidade e talvez por isso seja cauteloso: “Não digo que seja inocente, nem que não seja. Não posso por as mãos no fogo por nenhum ciclista. Eu nem dei positivo, nem faço os controlos. Ao Contador aplicaram um regulamento, que é o que aceitamos porque assim nos foi imposto. Demonstrou que é o melhor em muitas corridas: o ano passado correu o Giro e ganhou-o. Mas estas são as regras e ninguém faz nada contra até ter um problema. Não estou contra Contador, mas são regras que nos impõe e que temos que aceitar”.
Crítico do sistema ADAMS – base de dados online gerida pela Agência Mundial Antidopagem através do qual é controlado o paradeiro dos atletas, entre outras funcionalidades – e voz ativa na contestação ao mesmo, Oscar Freire tem vindo a perder protagonismo nesta luta e explica porquê: “Dei-me conta que cada um faz o que lhe convém. A todos parecia normal, por isso para quê preocupar-me. Decidi ficar na minha. É incrível que tenhamos que estar sempre localizáveis. No documento que recebemos, o regulamento já previa que os 50 primeiros do ranking da UCI eram suspeitos. Disse à equipa que era inaceitável e responderam-me que tinha que assinar para que me pagassem”.
Os anos podem ter amenizado a revolta, mas a ironia de Freire continua apurada como nunca. “Este Inverno visitei uma prisão e fiquei surpreendido com o grau de liberdade que têm. Eu, como ciclista, tenho que dizer onde vou e de onde venho, sem ter feito nada para que me tratem assim, como um suspeito”.
Defensor das irradiações em casos claros de doping, Oscar Freire pode estar menos combativo no plano burocrático mas continua a revelar uma clareza de pensamento invejável. Veremos se isso o ajuda a levar para casa mais um título na Milão-Sanremo.
Eurosport - Gonçalo Moreira
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